terça-feira, 28 de junho de 2011

Sessão de muita classe, história, arte e cultura, por HELENA MELLO

Veja aqui um relato sobre a Sessão da Classe sobre a MEMÓRIA DO EFÊMERO.

Betha Medeiros, Newton Silva, Cibele Sastre, Alice Dubina Trusz,
Maria Luiza Martini e Nádia Weber Santos durante o evento















Sessão da classe recebe os convidados com vinho e café, o que em noites mais frias já é um aconchego. A abertura do último encontro ficou por conta da coordenadora Nádia Maria Weber Santos, doutora em História da UFRGS. A primeira a falar foi Alice Dubina Trusz, também doutora em história pela UFRGS. Ela mesclou em sua pesquisa teatro, cinema, história e jornalismo. Sua pesquisa foi sobre cinema como espetáculo entre 1896 e 1908. Foi aos jornais para resgatar a história de uma época em que o cinema era novidade e que precisava acontecer junto com outras atividades como o circo, o teatro, as feiras. E, por não haver como registrar isso por meio de imagens, os jornalistas descreviam tudo detalhadamente. O cinema aparecia junto com gêneros espetaculares, como as touradas. Ela explica que não era para imaginar um cinema como o de hoje. Ela se referia a um projetor chamado Lanterna Mágica que mostrava imagens fixas. Foram 30 anos destas experiências. “Uma espécie de Power point dos dias de hoje”, disse ela, arrancando risadas da plateia. Cheia, por sinal. Mais tarde, o cinema se sedentariza. Ocupa espaços teatrais em dias determinados até 1908 quando surgem as pequenas salas legitimadas como espaço de cinema, havendo uma regularização e chegando ao que conhecemos hoje.

Platéia do Sessão da Classe: MEMÓRIA DO EFÊMERO
ao fundo a diretora de Os Reis Vagabundos, Maria Helena Lopes



Betha Medeiros inicia a sua apresentação sobre sua pesquisa do espetáculo os Reis Vagabundos comentando as relações que levam a considerações sobre o teatro falado, que leva ao corpo do ator e ao corpo criador do sé
culo XXI. Ela também recorre aos jornais e conta que pouco era guardado do material dos espetáculos, que as fotos iam parar nos setores de divulgação da imprensa. Também não escapou de outra prática da comunicação: as entrevistas. Segundo ela, estas foram gerando uma polifonia, um imenso quebra-cabeça. Fiapo, o cenógrafo do espetáculo, lembrou que não conhecia a palavra clown e que eles faziam um trabalho de improvisação como mendigos, catadores de lixo nas ruas, mas que, um dia, a diretora Maria Helena Lopes chegou nos ensaios com os “narizes” e tudo mudou. Betha não esconde a admiração que tem pela diretora (que estava presente aquela noite). Ela reforça que se tratava de uma peça sem texto e que, no entanto, provocou fortes e inesquecíveis impressões. Projeta fotos do espetáculo e a música enche a sala, mostrando a importância daqueles registros resgatados pelo seu trabalho apaixonado.
A próxima a falar é Cibele Sastre. Ela reaparece com o seu ótimo título: Nada é sempre a mesma coisa. Cibele já não fala só da notação de movimento de Laban, mas de sua apropriação. Comenta o quanto o coreógrafo ajudou no registro e difusão da coreografia, criando estes códigos para compartilhar os movimentos do corpo. Mas Cibele não se contentou com isso. Em sua pesquisa, usou este código, que até então era uma tarefa de movimento, como motor de um processo, como um dispositivo, como ela mesmo disse. Seu Power point com as imagens não funcionou. Ainda bem. Mal sabe ela o quanto foi prazeroso vê-la levantar e usar o próprio corpo para explicar do que ela estava falando. Se sua fala ainda não tinha convencido alguém, não tenho dúvida de que aqueles movimentos perfeitos, aquela consciência corporal exata e ao mesmo tempo flexível, fizeram isso.
A próxima palestrante, doutora em história, Maria Luiza Martini começa falando, emocionada, da importância da história cultural ter dado espaço para esta mistura com a arte. Recorda sua professora Sandra Pesavento e sua batalha para este reconhecimento. Ela diz que, enquanto a história está sempre se esforçando para expressar como foi, a memória é fazer aparecer o efêmero da ficção. Fala das categorias sintáticas, ou seja: quem, como, quando, onde. Aos poucos, ela vai puxando lembranças sobre os espetáculos e reforça a ideia de que para que possamos lembrar é preciso compartilhar o passado, pois a memória não vem completa. São aparições e no movimento de aproximação, elas apresentam falhas. Segundo ela, é preciso aceitar “o caráter lacunar e não ter medo de ter estas visões”. Maria Luiza segue fazendo análises sobre estes registros e diz que para saber mais detalhes precisaria encontrar outro ator que também estivesse com ela. Ela enfatiza este caráter da troca e fala em “historiografar as emoções na arte e na memória, partindo do contexto evocativo.
Newton Pinto da Silva ficou por último. Ele comenta como chegou ao Acervo de 24 programas da TVE que apresentavam espetáculos teatrais e entrevistas com os atores de 1987-1990. Intercala sua fala com pequenos trechos destes. Assim, vemos Tangos e Tragédias, A mãe da miss e o pai do Punk, Ostal, entre outros. Ele não apenas resgatou este material, mas partiu para as relações com a historiografia, usando para isso, como ele sempre gosta de frisar, os conceitos de Michel de Certeau, entre outros importantes autores. Fez um trabalho profundo selecionando, editando, reagrupando as imagens. Ele revela parte do processo para chegar aqui, partindo da seguinte pergunta: “como deixar falar estes documentos?”. A partir disso, não sem muitas dúvidas a serem solucionadas, ele criou nove categorias e elaborou um painel da cena teatral do período, onde aparece a força da estética experimental, a variedade de repertório e o hibridismo de gêneros.
Mesmo que os convidados não soubessem o quanto suas pesquisas tinham em comum, a organização foi perspicaz na reunião dos palestrantes que, apesar de não poderem se aprofundar muito devido ao tempo, tornaram a noite extremamente interessante. Todas as falas provocaram o desejo de saber mais sobre os assuntos apresentados. Assim, acho que a proposta dessa Sessão de classe não só cumpriu o seu papel como foi além.

Helena Mello
Jornalista e mestre em artes cênicas PPGAC/UFRGS

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Sessão da Classe:MEMÓRIA DA CENA AQUI

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