quinta-feira, 10 de março de 2011

SESSÃO DA CLASSE apresenta "O artista, o sucesso e o coletivo" por Zé Victor Castiel

Em nossa profissão não existe nunca a certeza do sucesso. Ao contrário. O motivo, embora pareça óbvio, é bem complexo. Só têm certeza do sucesso profissionais que se preparam para isso. Um cirurgião, por exemplo, que cumpriu todas as etapas da vida acadêmica e profissional, em condições normais fatalmente obterá sucesso. Um artista que se preparou de todas as boas maneiras, sejam formais ou informais já não terá esta certeza. Isso porque o sucesso de um artista não depende só de si - depende principalmente do seu público. É o público que irá determinar se aquele artista (preparado ao extremo) será merecedor de viver com dignidade com o fruto de seu trabalho.
Ora, então o problema não é do artista e, sim, do público, dirão alguns de forma simplificadora. Sim e não.
Sim porque para o público ampliar seu leque de gostos é preciso que seja aculturado. E Não porque, para acostumar o público a gostar, é preciso, como já dito, honestidade de propósitos, abnegação, paciência e sobretudo a preparação para o fracasso (no sentido de não desistir diante do surgimento dos insucessos).
Eu particularmente sou convicto de que em nossa profissão a busca pelo sucesso é muito menos penosa se for implementada de forma coletiva.
Como assim? Eu vou ser obrigado a desejar o sucesso alheio?
Eu não diria obrigado. Mas seria um ato de extrema inteligência.
Quando um consumidor comum quer comprar um eletrodoméstico, ele escolhe sua compra pelo preço ou por alguma publicidade que o instou à compra. Vai até a loja, adquire o bem e, provavelmente, ficará anos sem comprar um similar.
Na nossa profissão é diferente. Se alguém vai ao teatro e gosta do que viu, repete várias e várias vezes essa “compra”, enquanto houver oferta honesta e em curtos espaços de tempo.
Graças a Deus não somos eletrodomésticos, embora, para obtenção do sucesso, devamos ser consumidos. De forma lúdica, mas consumidos.
Portanto, amigos, talvez esteja na hora de uma reflexão enorme sobre a mudança de nossa postura egóica.
Ou desejamos o sucesso alheio, ou abraçamos de vez a eterna adolescência.
Há muito que conversar.
A oportunidade é de ouro.
Conversemos, pois.




Zé Victor Castiel é ator de cinema, televisão e teatro, e produtor.

2 comentários:

  1. Caro amigo Victor, eis a questão: como conciliar uma atividade intrinsicamente vinculada a vaidade, a auto-referência, ao narcisismo, à necessidade de reforço ao próprio ego (consequentemente uma atividade com a ferrugem da inveja na engrenagem, enfim, como conciliá-la com o reconhecimento positivo do sucesso alheio???

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  2. Camilo tocou na ferida: é a mesma coisa que alguém acusar um artista de ser vaidoso. Mas tem de ser vaidoso! Se ele subir ao palco sem se achar o máximo, será destruído em segundos pelo público. Ou pior: vai ter ignorado pela plateia.

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