quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sessão da Classe apresenta Memória do Efêmero por Cibele Sastre

"Ele [Laban] defendia a idéia de que os fundamentos de uma cultura se jogam nas relações particulares entre uma determinada gestão do peso e os valores de expressividade, através dos fluxos e dos tratamentos do espaço e do tempo. A impossibilidade de nossa organização lingüística de abarcar o sentido profundo do movimento levou-o à aventura do seu sistema de notação, que não se apóia numa metáfora lingüística, e sim numa representação pictográfica que responde, analogicamente, aos estados do corpo ainda não projetados na esfera da interpretação lingüística. "
Hubert Godard, no artigo "Gesto e Percepção" do livro Lições de Dança 3 (UniverCidade do Rio de Janeiro)


Neste encontro pretendo abordar de forma sintética, a memória na dança para quem faz dança. Especificamente, a busca pelo registro de uma manifestação que se dá no corpo, mas que estabeleceu, por muito tempo, uma relação direta com a música. Lembra-se de uma dança quando se escuta sua música. Som e imagem, espaço e tempo são processados em esquemas corporais de memória cinestésica para o dançarino e eventualmente para o coreógrafo. No momento em que a dança rompe esta relação de dependência na modernidade, faz-se necessário pensar com mais precisão e detalhe em modos de registro e relato do movimento dançado. Criar um sistema de notação para o movimento, de descrição dos diferentes aspectos que compõem o movimento e sua singularidade e tornar esse uma referência universal foi uma das buscas de Rudolf Laban, bailarino, coreógrafo e arquiteto áustro-húngaro que apresentou seu sistema de notação de movimento ao mundo no início do século XX. A kinetografia Laban, mais tarde conhecida como Labanotação, foi uma das mais bem sucedidas propostas de notação de movimento naquele momento da história, tornando possível uma relação do dançarino com o movimento de maneira muito peculiar. Uma ‘alfabetização’ do movimento pode ser feita através da leitura dos símbolos que compõem uma representação dos conceitos de espaço e corpo, com suas dinâmicas temporais e fraseamentos. Isso teve um impacto significativo para a cena de então, desdobrando-se pela Europa e Estados Unidos e atualmente sendo revisitada nos ambientes acadêmicos de dança de todo o mundo. Assim como na música, uma partitura de símbolos passou a escrever os passos da dança aprimorando seus processos de aprendizado e difusão. Notações decorrentes como a Notação por Motivos foram sendo utilizados em salas de aula e em processos de criação. Um grande esquema de analogias se constrói sobre esta ideia inicial de registro de movimento. Os aspectos positivos e outros nem tanto da formulação de Laban, bem como as decorrências desta proposta para Labanalistas em movimento, atualizando e ampliando essa discussão serão pontos de partida para o debate, que tomam como base a pesquisa desenvolvida no mestrado em Artes Cênicas do PPGAC da UFRGS na linha de pesquisa de processos de criação cênica: Nada é sempre a mesma coisa: um motivo em desdobramento através da Labanálise.

Cibele Sastre

Bailarina, Coreógrafa, Professora, Mestre em Artes Cênicas PPGAC/UFRGS e Analista de movimento Laban (CMA)
“A política e a arte, tanto quanto os saberes, constróem “ficções”, isto é, rearranjos materiais dos signos e das imagens, das relações entre o que se vê e o que se diz, entre o que se faz e o que se pode fazer.”
Jacques Ranciére, no livro A partilha do Sensível


Para ver a dissertação completa veja AQUI.

Veja a programação completa do
Sessão da Classe | MEMÓRIA DO EFÊMERO
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